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Eritrosina: um corante proibido e potencialmente perigoso - o que é e quais alimentos podem contê-lo?

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Corante vermelho, banido nos Estados Unidos por riscos à saúde, é permitido no Brasil; entenda para que serve, como identificá-lo e quais os possíveis malefícios.

Eritrosina, corante vermelho, está presente em alimentos como balas e industrializados — Foto: iStock

A Food and Drug Administration (FDA), a Agência de Alimentos e Medicamentos dos Estados Unidos, proibiu a utilização de eritrosina, corante vermelho empregado em alimentos industrializados e remédios, por riscos à saúde. Também banida em outros países, mas liberada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, a substância está presente em alimentos industrializados.

Eritrosina: o que é e em quais alimentos é usado

Eritrosina, também chamada de Vermelho nº 3, é um corante sintético derivado de compostos orgânicos contendo iodo, pertencente ao grupo dos corantes azo. Ela é amplamente utilizada na indústria alimentícia e em outros produtos para conferir uma coloração rosa ou avermelhada intensa.

É um sal orgânico produzido a partir de reações químicas, e por isso se diz que o composto é um corante sintético.

Ela é usada principalmente para melhorar a aparência visual de alimentos e torná-los mais atraentes para o consumidor. Entre as funções dela estão:
  • Coloração: confere uma coloração rosa ou vermelho vibrante, muitas vezes associada a alimentos doces, como balas, confeitos, gelatinas e coberturas de bolo;
  • Padrão de qualidade: ajuda a padronizar a cor em lotes de alimentos processados, garantindo uniformidade;
  • Marketing visual: produtos visualmente atrativos tendem a ser mais aceitos pelo público, especialmente entre crianças, para quem cores vivas são diferenciais.
A eritrosina está contida em itens como:
  • Balas;
  • Confeitos;
  • Doces industrializados;
  • Bolos industrializados;
  • Gelatinas;
  • Cerejas em conserva;
  • Sorvetes e picolés artificiais;
  • Bebidas açucaradas ou aromatizadas.
  • Ela também pode ser encontrada em cosméticos, medicamentos (como revestimentos de comprimidos) e produtos não alimentícios, que também podem causar malefícios para a saúde.
Como identificar a eritrosina no rótulo

A eritrosina pode aparecer nos rótulos dos produtos de diversas maneiras. No Brasil, os nomes mais comuns incluem:
  • Eritrosina;
  • Corante artificial vermelho 3;
  • E127 (código europeu);
  • INS 127 (International Numbering System).
Os consumidores devem observar a lista de ingredientes nos rótulos, onde a inscrição do nome ou do código do aditivo é obrigatória por lei.

Por que houve a proibição

A FDA proibiu a utilização de eritrosina em alimentos e medicamentos quase 35 anos depois a substância ter sido proibida em cosméticos, devido a estudos que ligam o corante a casos de câncer em camundongos.

Apesar de as doses empregadas nos estudos com ratos serem muito maiores do que as consumidas por humanos, a FDA decidiu revogar a autorização à eritrosina e deu prazos de 15 de janeiro de 2027 para fabricantes de alimentos e 18 de janeiro de 2028 para produtores de medicamentos para que o aditivo seja removido das formulações dos produtos.

A eritrosina já havia sido banida no Estado da Califórnia, nos Estados Unidos, e é proibida em países como Austrália, Japão e membros da União Europeia.

Na decisão, a FDA ressaltou que "os níveis de exposição relevantes para humanos são significativamente mais baixos do que aqueles que causaram os efeitos em ratos" e que estudos adicionais em humanos e outros animais não encontraram os mesmos malefícios detectados nos ratos.

Quais os possíveis malefícios da eritrosina

Segundo a nutricionista e farmacêutica Verônica Dias, "os malefícios da eritrosina estão relacionados à composição química da substância, que inclui altos níveis de iodo. Esse composto pode interferir no funcionamento da glândula tireoide e no equilíbrio hormonal".

Ela aponta que estudos indicam que a eritrosina pode ter efeitos adversos, tais como:
  • Reações alérgicas: algumas pessoas podem apresentar sensibilidade ao corante, desenvolvendo urticária ou outros sintomas respiratórios;
  • Potencial carcinogênico: embora os dados sejam controversos, estudos em animais sugerem que o consumo em altas doses pode estar associado a riscos de tumores;
  • Hiperatividade e comportamento: assim como outros corantes artificiais, a eritrosina está associada a comportamentos hiperativos em crianças, embora mais pesquisas sejam necessárias. Na prática clínica em crianças que apresentam TEA/TDAH, isso é muito evidenciado.
— Embora a eritrosina seja permitida no Brasil dentro dos limites estabelecidos pela legislação, é recomendado evitar ou limitar o consumo de produtos que contenham essa substância. Apesar de ser considerada segura em pequenas quantidades, estudos indicam que o consumo excessivo ou frequente pode trazer riscos à saúde — destaca a nutricionista.

— Optar por alimentos livres de corantes artificiais, como a eritrosina, é uma maneira de reduzir a exposição a aditivos químicos e favorecer uma alimentação mais natural e saudável. Sempre que possível, priorize produtos com corantes naturais, como cúrcuma, urucum ou beterraba, que não apresentam os mesmos riscos associados aos corantes artificiais.

Já o engenheiro de alimentos Julio Cezar Paixão, da Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos (ABEA), ressalta que "não há registros conclusivos de que esse composto possa realmente ser prejudicial à saúde humana, principalmente na dosagem em que é utilizada".

— Há pessoas que podem realmente apresentar uma rejeição ao corante e, por isso o corpo pode apresentar erupções cutâneas, urticária, e existe uma relação com hipersensibilidade ao composto, embora sejam em casos raros. Mesmo diante disso, não há nada que realmente seja motivador para que se pronuncie a fatalista frase "não recomendável" — pondera o especialista.

— Há suspeitas de uma possível relação entre o consumo do corante com comportamentos hiperativos em crianças, porém isso não é conclusivo, assim como não se pode dizer que o consumo esteja relacionado com câncer, mas, enquanto houver dúvida, órgãos como a FDA proibirão o uso.

— Não sei qual será o posicionamento da Anvisa aqui no Brasil, mas sinceramente eu não vejo que haja motivo para grandes preocupações — conclui o engenheiro de alimentos.

Em nota, a Anvisa destacou que a decisão da FDA "atende uma lei dos Estados Unidos que proíbe a autorização de aditivos ou corantes se houver sido demonstrado que estes causam câncer em humanos ou animais".

— Há estudos demonstrando a ocorrência de câncer em ratos machos expostos a altos níveis do corante, por um mecanismo hormonal específico dos ratos. Estudos realizados em humanos e outros animais não demonstraram tais efeitos — argumentou a agência.

Segundo a Anvisa, a eritrosina passou por reavaliação de um comitê de especialistas em aditivos alimentares em 2018, com a conclusão "que a exposição dietética não representava preocupação de saúde".

— Embora a FDA não mencione a existências de novas evidências e que as evidências conhecidas não levantem preocupação de segurança para consumo humano, a Anvisa estudará as referências científicas da petição apresentada à autoridade americana, motivadora da ação, verificando a existência de justificativa para uma reavaliação.

Fontes:

Verônica Dias é nutricionista integrativa e farmacêutica do Instituto Nutrindo Ideais/Niterói. É pós-graduada em Terapias Integrativas, especializada em modulação intestinal, psiquiatria nutricional efitoterapia e pós-graduanda em Nutrição Esportiva.

Julio Cezar Paixão é engenheiro de alimentos e químico, Mestre em Ciência e Tecnologia de Alimentos e diretor financeiro da Associação Brasileira de Engenheiros de Alimentos (ABEA).

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