Sua mãe tinha razão? Veja se é perigoso nadar depois de comer

Fatores como tipo de refeição e intensidade do exercício devem pesar na decisão

© Ana Marcela Cunha, uma das melhores atletas de maratona aquática do planeta, costuma esperar uma hora entre as refeições e o treino ou competição - Foto: Felipe Rau|Estadão

A nadadora Ana Marcela Cunha começou a dar suas primeiras braçadas aos 2 anos de idade. Aos 8, ela trocou as piscinas pelo mar aberto; aos 16, disputou sua primeira Olimpíada, a de Pequim, na China; e aos 28, conquistou sua primeira medalha de ouro, em Tóquio, no Japão. Hoje, aos 31, é considerada uma das melhores atletas de maratona aquática do planeta, sete vezes campeã do mundo em águas abertas.

A atual campeã olímpica afirma nunca ter passado mal (treinando ou competindo) depois de comer. Ela sempre dá um intervalo de uma hora entre a refeição e o início de um treino e de pelo menos duas antes de uma competição. “Nunca senti qualquer mal-estar”, garante a atleta. “Mas já vi nadadores terem ânsia de vômito por ingerirem alimentos e até suplementos minutos antes de uma prova”.

Nadar depois das refeições, garantem os especialistas, não faz mal à saúde. Mesmo assim, eles orientam os nadadores, profissionais ou amadores, que prestem atenção tanto ao tipo de refeição quanto à intensidade do exercício. “A recomendação depende do quanto o indivíduo comeu e do quanto de esforço ele vai fazer”, explica Wilson Roberto Catapani, presidente da Sociedade de Gastroenterologia de São Paulo (SGSP). “Se a refeição for habitual e a prática recreacional, não há problema”.

A exceção da regra, ressalva, é o consumo de álcool: “Sua ingestão é contraindicada na praia ou na piscina”.

Agora, se a refeição for pesada e o ritmo intenso, os médicos recomendam cautela. “Alimentos ricos em proteína têm um tempo de digestão mais longo”, avisa o gastroenterologista Daniel Machado Baptista, do Hospital Nove de Julho, em São Paulo. Dois exemplos clássicos de “refeições pesadas” são o churrasco e a feijoada. O ideal nesses casos é esperar de três a quatro horas para entrar na piscina ou cair no mar.

“Essa recomendação vale para toda e qualquer atividade intensa, como corrida ou musculação”, complementa o gastro Álvaro Delgado, do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, na capital paulista. “E não só a natação”.

Por que não é uma boa ideia nadar de forma intensa após refeições pesadas?

Toda vez que terminamos de comer, nosso organismo prioriza a digestão. Por essa razão, todo o fluxo sanguíneo é direcionado para o estômago, entre outros órgãos do aparelho digestivo. “Não por acaso, sentimos sonolência depois das refeições”, pontua a médica do esporte Esthela Oliveira.

O problema é quando resolvemos praticar atividade física intensa, dentro ou fora d’água, depois de comer. O sangue que deveria ir para o estômago é deslocado para os músculos. Conclusão: esse desvio de rota atrapalha a digestão e pode causar problemas gastrointestinais, como vômitos e náuseas.

“O risco de eventos graves, como a morte, é extremamente baixo”, tranquiliza a clínica geral Tatiana Buainain, do Hospital Santa Paula, da Rede Dasa.

Pode tomar banho depois de comer?

Ok, nadar depois de comer, em condições normais, não faz mal à saúde; mas, e tomar banho, faz? Menos ainda, explicam os médicos. Afinal, no banho, você não pratica nenhuma atividade física intensa.

Mesmo assim, há de se tomar cuidado com banhos muito quentes. O perigo da vez se chama síncope vasovagal. Traduzindo: perda repentina de consciência devido à redução do fluxo sanguíneo no cérebro ou no coração. “Banho quente dá a sensação de desmaio e mal-estar. Mais por causa do calor do que da água”, explica Esthela Oliveira. Na pior das hipóteses, o indivíduo pode cair e bater com a cabeça no box.

Um último alerta: praias e piscinas requerem atenção redobrada, sim, mas rios, represas e cachoeiras também não estão livres de perigo. Pelo contrário. Segundo a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa), o Brasil registra uma média de 5,7 mil mortes por afogamento ao ano. Dessas, 70% são em água doce.

A maior parte dos óbitos é por imprudência dos banhistas, quando se afastam das áreas de segurança, ingerem bebida alcoólica antes de nadar ou desobedecem às placas de sinalização.

De olho nas Olimpíadas de Paris, Ana Marcela não se descuida dos treinos. São, em média, dez sessões por semana. Só descansa às quartas e aos sábados, na parte da tarde, e aos domingos, no dia todo. Além disso, evita alimentos “pesados” antes das competições e nunca, em hipótese nenhuma, treina em jejum.

Em provas mais longas, como a tradicional Capri-Napoli, de cerca de seis horas de duração, já chegou a experimentar, com orientação médica, pêssego em calda. “Compensou o desgaste de três horas nadando e me ajudou a enfrentar as três horas restantes”, conta a nadadora.

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